terça-feira, 13 de julho de 2010

Comunico-me, portanto, existo

O ser humano é o ser da comunicação. Existimos a partir do que comunicamos. E a comunicação vai muito além das palavras: somos capazes de comunicarmos pelo nosso corpo, pelas nossas atitudes.

Nas escolas fala-se muito em habilidades e conteúdos a serem trabalhados. E eles são cobrados por meio de avaliações institucionais (Prova Brasil, Prova São Paulo, Prova da Cidade, Saresp, Enem e uma infinidade de instrumentos). Cobram-se elementos que toda escola deveria trabalhar, mas esquece-se que, antes de conteúdos, deveríamos trabalhar capacidades comunicativas. Como podemos cobrar a mesma coisa de alunos que passam por situações diversas: aqueles que têm quem lhes eduque em família e aqueles que têm que se virar sozinho; aqueles que estão em condições propícias e aqueles que estão muito atrás do processo (inclusão); aqueles que têm uma escala de valores e os que ainda não a tem; aqueles que são providos no lar (encaram a escola como provedora de conhecimentos) e os que são desprovidos de tudo (e encaram a escola como provedora do que lhes é negado no lar). Não está faltando aprimorar a capacidade comunicativa das pessoas e das instituições?!? O discurso "educação para todos" não está encobrindo uma falha comunicativa entre os envolvidos no processo?!?


Nos meios de comunicação social (TV, rádio, teatro, internet etc) fala-se muito em formar consciências, em informar as pessoas de forma imparcial, neutra. Mas uma informação parcial, que enfoca apenas um lado da questão, que mostra somente o que determina quem tem um suposto poder, está informando ou deformando?!? Mostrar somente o lado negativo da vida, enfatizando-o, e ignorar fatos positivos ou as diversas versões de um mesmo fato, é comunicar?!? Enfim, eles informar e formam, ou deformam mentes? Geram consciência ou criam opiniões parciais? Comunicam o quê?


Nas Igrejas, em especial, na Igreja Católica, fala-se muito em Pastoral da Comunicação, como se esta fosse uma novidade a ser empregada. Mas se na Igreja há uma comunicação eficiente entre seus membros, entre seus diversos grupos e comunidades, a Pastoral da Comunicação não precisa ser formada, exatamente porque ela já existe! Precisamos apenas fortalecer a comunicação que ai existe, sobretudo aquela comunicação do olhar, da postura corporal, da acolhida. Tudo o mais será consequência.


Em todas as instituições (escola, família, igreja etc), há uma tendência muito forte em se enfatizar os meios, como se estes fossem soluções comunicativas. De nada adianta eu ter uma emissora de TV ou rárdio, um auditório ou um site, se eles são instrumentos que se esgotam em si. Quantas peças teatrais, quantos livros, quantos programas e sites conhecemos e que não retratam nada do que é vivenciado nessas instituições. Faça-se um levantamento de, por exemplo, quantos sites que estão no ar, estão, de fato, com informações atualizadas (verifique-se isto, por exemplo, nos sites que pretendem representar alguma igreja ou movimento social).


Um instrumento deve revelar o fruto do processo comunicativo que há na instituição promotora dele. Uma prova institucional terá seus resultados (as tais das proficiências, tão cobradas por gestores) reais se o processo educativo da escola acontecer de forma comunicativa e dialógica. Um programa televisivo ou radiofônico formará consciências se os seus detentores forem capazes de comunicar de forma integral, não parcial. Um site será eficiente se for fruto de processos comunicativos entre os integrantes da instituição que é revelada por ele.


Sem cuidados básicos, o ser humano não comunica nada. Apenas mascara realidades, deforma, aliena. E ninguém está vacinado contra este mal, nem deve ficar acusando os outros pelos insucessos, uma vez que conquistas e derrotas não são individuais, mas coletivas. Veja-se o exemplo de um time de futebol: uma vitória ou uma derrota é de todos, desde os atletas que suaram a camisa em campo, como de seus treinadores e dirigentes.

Está na hora, se é que não se passou, de pararmos tudo o que fazemos (ou deixamos de fazer) e avaliarmos nossas capacidades comunicativas. Sem isso, estaremos construindo nossa ruina, por ação ou omissão. Esse é o preço de sermos seres sociais, comunicativos, dependentes uns dos outros.

Professor João César
Julho de 2010
http://pazeduca.pro.br/contato


Julho de 2010
http://pazeduca.pro.br/contato

OBSERVAÇÃO NECESSÁRIA:

1) Antes que criem mal entendido com algumas colocações minhas, já adianto que não sou contra a diversidade em sala de aula, nem às avaliações institucionais (segundo parágrafo de meu texto), mas sou favorável a uma flexibilização inexistente nas avaliações. Afinal, não podemos nivelar educandos com necessidades diversas, isso é um crime e depõe contra todas as conquistas inclusivas. Aliás, sou tão favorável à inclusão que, há mais de 10 anos atrás, fui uns dos primeiros professores a ter em sala de aula um aluno com paralisia cerebral. Recentemente comentáva com meu Coordenador Pedagógico que meu quarto ano tem uma riqueza imensa, uma vez que há grande diversidade na faixa etária. Isso tudo atesta que sou favorável à inclusão, desde que a mesma ocorra de verdade, não somente de forma poética.

2) Quanto a questão da mídia parcial, conheço jornalistas que são íntegros e não compactuam com  essa deformidade que certos meios de comunicação tentam impor sobre a população.

3) Também não combato a Pastoral da Comunicação. Apenas elucido que ela é fruto de um processo comunicativo maduro, que nossas pastorais católicas não estão sabendo ter. Haja visto o numero de pessoas que não se sentem acolhidas em suas necessidades em nossas comunidades.

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